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Fonte: Imagem de Pixabay
Tem sido reconhecido algum valor nutricional ou benefício para a saúde aos “excedentes” citados. A título de exemplo, sublinhamos que o floema da banana (os fios ao longo da banana que habitualmente deitamos ao lixo juntamente com a casca) oferece uma grande concentração de nutrientes, dado que é o vaso condutor responsável pela distribuição dos nutrientes no fruto.
“As partes mais duras [das hortaliças], depois de bem cozidas, podem desfazer-se com a varinha para preparar um puré com o qual se engrossa a sopa ou se introduz, em camadas, nos pratos de forno como empadão de batata, arroz de segredo ou empadão de massa. Portanto, pode aproveitar-se o que tantas vezes se deita fora. Importa ter em conta a importância nutricional dos produtos hortícolas e a noção de que não são substituíveis por nenhuns outros grupos de alimentos.” (Emílio Peres, manuscrito “Um jardim de infância escreve aos pais de suas crianças”, 1983).
O aproveitamento integral do alimento poderá contribuir para a melhoria nutricional de alguns padrões alimentares, assim como promover a variedade e a criatividade (quase poética) na preparação de alimentos e na confeção de refeições. Existem várias receitas alusivas ao (re)aproveitamento de alimentos em pão, doces, geleias, molhos, sopas ou sumos.
“Alguma vez imaginou fazer um delicioso pão integral de talos, ou ainda um ensopado de cascas de melancia?” (Alexandre Fernandes, Cascas, Talos, Folhas e outros tesouros nutricionais)
Valoriza-se o aproveitamento integral dos alimentos no planeamento e preparação de refeições de forma saudável e segura, sublinhando-se a sua importância na escolha, aquisição e conservação de alimentos e no respetivo manuseamento e confeção pelo consumidor final. Da mesma forma, reitera-se a relevância do aproveitamento integral dos alimentos nos processos de produção, distribuição e venda de alimentos e de reciclagem de matéria orgânica.
O (re)aproveitamento ou o aproveitamento integral dos alimentos, enquanto opção generalizada desde o produtor ao consumidor, poderá contribuir para uma gestão eficiente do desperdício alimentar, com impacto na economia doméstica e na preservação do ambiente.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma
coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um
cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Rio, 27 de Dezembro de 1947 | por Manuel Bandeira (1866-1968)