A biblioteca da FCNAUP dispõe de um novo recurso online "Nutrition Chill Out". O principal objetivo do "Nutrition Chill Out" é promover a leitura (descontraída) das obras existentes na nossa biblioteca a partir da seleção de alguns excertos pertinentes para um dado tema da atualidade ou para assinalar datas de interesse.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Colagénio! Foi você que pediu?| 11.2021

Fonte da imagem: Pixabay

Na era da “food on demand” (à vontade do consumidor), tem-se verificado uma procura crescente por alimentos funcionais, suplementos alimentares e outros produtos para ingestão oral, manipulados e comercializados especificamente para melhorar a aparência da silhueta, pele, cabelo e unhas ou a saúde das articulações.

A dualidade cozinha vs botica está plasmada nos receituários culinários portugueses e as “receitas de saúde e beleza” pululam no nosso imaginário cultural desde sempre. Vejam-se os “caldos e substâncias, tanto de carne como de peixe, de ervas, raízes e legumes, caldos em pastilhas ou de conserva e outros para várias enfermidades” compilados no Cozinheiro Moderno ou a Nove Arte de de Cozinha, de Lucas Rigaud. Mais recentemente, a indústria alimentar tem investido na criação de novos produtos alimentares que prometem promover a “beleza a partir do interior”, como por exemplo bebidas lácteas ou iogurtes adicionados de colagénio hidrolisado.

“Based on the results of this study, HC supplements or collagen peptides can delay and improve the signs of skin aging by decreasing facial wrinkles and improving skin hydration and elasticity, while the supplementation is maintained.” (Miranda et al. Effects of hydrolyzed collagen supplementation on skin aging: a systematic review and meta-analysis. 2021)

A par do reconhecimento crescente do papel antioxidante de alguns alimentos no atraso do processo de envelhecimento, uma “nova” geração de produtos para ingestão oral ganha expressão no mercado da beleza e da estética, na forma de  cápsulas, gomas ou pastilhas, formuladas com ingredientes antioxidantes e adaptogenos, que potenciam a produção de colagénio ou elastina.

Proliferam novos termos como: “Nutricosmética”, “nutracêutica”, “cosmecêutica”, na tentativa de representar conceitos de fronteira entre a nutrição, a farmacêutica e a cosmética e de enquadrar novos produtos de “beleza edível”, que carecem ainda de regulação e controlo por parte das entidades competentes. Apesar de o número de estudos sobre “nutricosméticos”, por exemplo, ter vindo a aumentar, a evidência científica é ainda parca na identificação de doses e períodos de tratamento ideais e parece sugerir o uso concomitante de cosméticos tópicos, bem como o acompanhamento de um profissional qualificado para obter um resultado significativo e prevenir possíveis intoxicações ou reações alérgicas.

“Razões endócrinas, agressões ambientais e doenças específicas podem alterar a saúde e aspeto da pele. Felizmente são relativamente pouco frequentes; o vulgar é a pele manifestar carências, abundâncias e outros desvarios da boca. A face é o espelho da nutrição.” (Dr. Emílio Peres).

Na ausência de regulação e evidência significativas, cabe ao consumidor procurar informação validada junto de profissionais qualificados, sendo garantido que a “pílula dourada” não substitui uma alimentação saudável e equilibrada na procura de uma pele mais jovem, cabelo brilhante ou unhas fortes.

 - Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…

 - O essencial é invisível para os olhos – repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

 - Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

 - Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

 - Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa…

 - Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

(Excerto do livro “O meu principezinho”, por Antoine de Saint-Exupéry)

Sugestões de leitura

Effects of hydrolyzed collagen supplementation on skin aging: a systematic review and meta-analysis| 2021 (Full text U.Porto)
A dairy product to reconstitute enriched with bioactive nutrients stops bone loss in high-risk menopausal women without pharmacological treatment| 2020 (Open Access)
Nutricosmetics: A brief overview| 2019 (Full text U.Porto)

Sugestões para consulta de obras na Biblioteca





sexta-feira, 16 de julho de 2021

O “floema da banana” ou a poesia no (re)aproveitamento dos alimentos| 07.2021

 

Fonte: Imagem de Pixabay

De uma forma geral, as cascas, os talos, as folhas ou mesmo os caroços ou sementes retirados de alguns alimentos, sobretudo hortícolas e frutas, não são aproveitados pelo consumidor em geral e são considerados partes não convencionais, “restos” ou “sobras” dos alimentos, na maioria das vezes, por razões sociais ou culturais.

Tem sido reconhecido algum valor nutricional ou benefício para a saúde aos “excedentes” citados. A título de exemplo, sublinhamos que o floema da banana (os fios ao longo da banana que habitualmente deitamos ao lixo juntamente com a casca) oferece uma grande concentração de nutrientes, dado que é o vaso condutor responsável pela distribuição dos nutrientes no fruto.

“As partes mais duras [das hortaliças], depois de bem cozidas, podem desfazer-se com a varinha para preparar um puré com o qual se engrossa a sopa ou se introduz, em camadas, nos pratos de forno como empadão de batata, arroz de segredo ou empadão de massa. Portanto, pode aproveitar-se o que tantas vezes se deita fora. Importa ter em conta a importância nutricional dos produtos hortícolas e a noção de que não são substituíveis por nenhuns outros grupos de alimentos.” (Emílio Peres, manuscrito “Um jardim de infância escreve aos pais de suas crianças”, 1983).

O aproveitamento integral do alimento poderá contribuir para a melhoria nutricional de alguns padrões alimentares, assim como promover a variedade e a criatividade (quase poética) na preparação de alimentos e na confeção de refeições. Existem várias receitas alusivas ao (re)aproveitamento de alimentos em pão, doces, geleias, molhos, sopas ou sumos.

“Alguma vez imaginou fazer um delicioso pão integral de talos, ou ainda um ensopado de cascas de melancia?” (Alexandre Fernandes, Cascas, Talos, Folhas e outros tesouros nutricionais)

Valoriza-se o aproveitamento integral dos alimentos no planeamento e preparação de refeições de forma saudável e segura, sublinhando-se a sua importância na escolha, aquisição e conservação de alimentos e no respetivo manuseamento e confeção pelo consumidor final. Da mesma forma, reitera-se a relevância do aproveitamento integral dos alimentos nos processos de produção, distribuição e venda de alimentos e de reciclagem de matéria orgânica. 

O (re)aproveitamento ou o aproveitamento integral dos alimentos, enquanto opção generalizada desde o produtor ao consumidor, poderá contribuir para uma gestão eficiente do desperdício alimentar, com impacto na economia doméstica e na preservação do ambiente. 

O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Rio, 27 de Dezembro de 1947 | por Manuel Bandeira (1866-1968)



Sugestões para consulta de obras na Biblioteca






segunda-feira, 26 de abril de 2021

Le Puits d´Amour: o prazer na gastronomia | 04.2021

 

Fonte: Imagem de S. Hermann & F. Richter or Pixabay


O simbolismo libidinoso de alimentos e do ato de comer tem sido alvo de representação generalizada na Arte, na Cultura e no Imaginário de várias civilizações, ao longo dos tempos. O próprio vocabulário de cariz erótico traduz de forma vívida as relações luxuriosas entre o Amor e a Comida.


Sempre existiu a procura por alimentos “afrodisíacos” naturais como o chocolate, os espargos ou as ostras e a utilização de ingredientes estimulantes como ervas aromáticas e especiarias é parte constituinte do património gastronómico intemporal. Da mesma forma, a confeção de pratos com analogias eróticas está documentada na História Gastronómica portuguesa e europeia. Citamos o caso do escândalo cortês criado à volta da sobremesa “Le PuitsAmour”, de Vincent La Chapelle, oferecida, na corte de Luís XV, nos jantares mais íntimos. A sociedade da época não foi indiferente às conotações veladas da concha de massa folhada recheada com geleia de groselha, sendo que o recheio foi posteriormente substituído por um creme de pasteleiro caramelizado para torná-la mais “aceitável”…


“O erotismo está para a sexualidade tal como a gastronomia para a cozinha” (Pasini, El cibo e l´amore, 1994)


Os filósofos clássicos, como Platão, reconheciam a dimensão hedonista da “arte culinária”, contribuindo para a fruição e o gozo na alimentação, ainda que de uma forma regrada “de modo a que sem doença se colha o seu prazer” (Platão, O Banquete). Atualmente, sublinha-se o papel da satisfação sensorial oferecida pelos alimentos e pela alimentação no desejo e na escolha alimentar do consumidor, sendo que o prazer na experiência gastronómica deve ser um fator considerado na procura de estratégias que promovam a adoção de hábitos alimentares saudáveis e a prevenção de doenças relacionadas.


Selecionamos um conjunto de materiais que julgamos ter interesse para uma leitura (descontraída) sobre este tema.


Sugestões para leitura

A holistic aesthetic experience model: Creating a harmonious dining environment to increase customers' perceived pleasure (2020)

Food with influence in the sexual and reproductive health (2019)

A mixed method approach to understanding the role of emotions and sensual delight in dining experience (2012)

             

Sugestões para consulta de obras na Biblioteca